Quem me conhece sabe o meu amor por comédia e, principalmente, por filme nacional.
Mas hoje o humor brasileiro não riu e, apesar de toda comemoração pela vitória
linda de uma nordestina retada no BBB 21, a tristeza se misturou e confundiu os
sentimentos.
Então o riso chorou.
Então o humor enlutou.
Então o cinema nacional parou.
Então mais uma família se desfez.
No Brasil, as famílias dilaceradas
pela dor da perda pelo coronavírus já somam mais de 400 mil.
E essa família, é um modelo lindo com 2 pais, 2 homens que apesar de todo
preconceito, mostravam que o amor e o respeito devem ser os maiores sentimentos. Esta família
representa uma luta diária para milhões de outras pessoas e que se inspiravam
em Paulo Gustavo para vencer desafios e olhares desconfiados e cheios de
preconceito. Um bom exemplo recente
passou pela casa mais vigiada do país. Pois é, existem milhares de Gil do Vigor
espalhados por esse Brasil. Milhares de seres humanos que procuram se
encontrar, lutam contra suas essências, se escondem e se martirizam por trás de
religiosidades... enfim.
Por isso, insisto em dizer que a
morte de Paulo Gustavo não é só mais uma morte por covid-19, a maior pandemia
da nossa história, é também uma ferida na morimbunda esperança do Brasileiro.
A morte do humorista mais genial e inquieto da atualidade – ao menos para mim -
é também um abalo na luta pelas causas LBGTQIA+. Esse vazio que será deixado nas telas da
comédia nacional será dor para familiares e fãs, sem dúvida. Mas também o será
para os militantes que se inspiram no ator e sua coragem.
Infelizmente, essa perda também trará à tona
muitas palavras de ódio daqueles que se acham superiores em sua questionável
fé. Os dedos inquisidores, os apontadores da moral e bons costumes, já começam
a destilar seu veneno nas poeiras digitais.
Os julgadores já iniciaram a justificativa sobre a nossa perda, alegando o
pseudo e mítico pecado da sexualidade de 2 homens, 2 humanos que se amam e que
formam uma família como qualquer outra em que se tem amor. Esses mesmos apontadores, instituídos do que
creem ser o poder do filho de Deus, mas que não passa de ódio, maldade e
ignorância, já dizem que a morte de PG é a prova de que Deus não aceita o amor
entre iguais.
Agora imaginem aqueles que ainda
se escondem internamente em armários do inconsciente, sentem-se sós, sem apoio
ou que estão se apegando a uma fé inquisidora, ouvindo essa justificativa
imoral e desumana? É como se houvesse razão na fala ferina desses cruéis, ao
afirmarem que a morte de Paulo Gustavo foi vontade Divina, como castigo pelo
amor proibido.
Ainda há questões políticas
vinculadas em todo o contexto aqui explicitado. Um reforço à incoerência, ao
absurdo, ao julgamento, ao ataque, à homofobia, contra as vacinas... e por aí
vai. Estamos no vazio de uma direção, a ausência de um capitão nesta Nau
chamada Brasil, e que navega pelas turbulentas águas da irresponsabilidade do
desgoverno.
Pelo amor de Deus, da sua fé, das
suas crenças, do respeito e da constituição, protejam seus amigos, filhos e
pais. Ajudem com muito amor e respeito. Você pode ser um desses que se esconde
por trás de uma porta de “armário”... ou pode conhecer alguém nessa situação.
Seja você o lado bom, o lado do acolhimento. Já tem muita gente ruim no mundo.
Acredite que você pode ser a diferença na vida de alguém... a diferença na escolha
de alguém entre ficar neste plano ou não.
Por isso, finalizo reiterando que
a morte do queridíssimo Paulo Gustavo não é mais uma morte ou a morte de mais
um artista. É também uma ferida na esperança por dias melhores.
Mas o curativo é o amor e ninguém solta a mão de ninguém.