quarta-feira, 5 de maio de 2021

O amor a 220 voltz


 

Quem me conhece sabe o meu amor por comédia e, principalmente, por filme nacional.

Mas hoje o humor brasileiro não riu e, apesar de toda comemoração pela vitória linda de uma nordestina retada no BBB 21, a tristeza se misturou e confundiu os sentimentos.

Então o riso chorou.
Então o humor enlutou.

Então o cinema nacional parou.
Então mais uma família se desfez.

 

No Brasil, as famílias dilaceradas pela dor da perda pelo coronavírus já somam mais de 400 mil.
E essa família, é um modelo lindo com 2 pais, 2 homens que apesar de todo preconceito, mostravam que o amor e o respeito devem ser  os maiores sentimentos. Esta família representa uma luta diária para milhões de outras pessoas e que se inspiravam em Paulo Gustavo para vencer desafios e olhares desconfiados e cheios de preconceito.  Um bom exemplo recente passou pela casa mais vigiada do país. Pois é, existem milhares de Gil do Vigor espalhados por esse Brasil. Milhares de seres humanos que procuram se encontrar, lutam contra suas essências, se escondem e se martirizam por trás de religiosidades... enfim.

Por isso, insisto em dizer que a morte de Paulo Gustavo não é só mais uma morte por covid-19, a maior pandemia da nossa história, é também uma ferida na morimbunda esperança do Brasileiro.
A morte do humorista mais genial e inquieto da atualidade – ao menos para mim - é também um abalo na luta pelas causas LBGTQIA+.  Esse vazio que será deixado nas telas da comédia nacional será dor para familiares e fãs, sem dúvida. Mas também o será para os militantes que se inspiram no ator e sua coragem.

 Infelizmente, essa perda também trará à tona muitas palavras de ódio daqueles que se acham superiores em sua questionável fé. Os dedos inquisidores, os apontadores da moral e bons costumes, já começam a destilar seu veneno nas poeiras digitais.
Os julgadores já iniciaram a justificativa sobre a nossa perda, alegando o pseudo e mítico pecado da sexualidade de 2 homens, 2 humanos que se amam e que formam uma família como qualquer outra em que se tem amor.  Esses mesmos apontadores, instituídos do que creem ser o poder do filho de Deus, mas que não passa de ódio, maldade e ignorância, já dizem que a morte de PG é a prova de que Deus não aceita o amor entre iguais.

Agora imaginem aqueles que ainda se escondem internamente em armários do inconsciente, sentem-se sós, sem apoio ou que estão se apegando a uma fé inquisidora, ouvindo essa justificativa imoral e desumana? É como se houvesse razão na fala ferina desses cruéis, ao afirmarem que a morte de Paulo Gustavo foi vontade Divina, como castigo pelo amor proibido.

Ainda há questões políticas vinculadas em todo o contexto aqui explicitado. Um reforço à incoerência, ao absurdo, ao julgamento, ao ataque, à homofobia, contra as vacinas... e por aí vai. Estamos no vazio de uma direção, a ausência de um capitão nesta Nau chamada Brasil, e que navega pelas turbulentas águas da irresponsabilidade do desgoverno.

 

Pelo amor de Deus, da sua fé, das suas crenças, do respeito e da constituição, protejam seus amigos, filhos e pais. Ajudem com muito amor e respeito. Você pode ser um desses que se esconde por trás de uma porta de “armário”... ou pode conhecer alguém nessa situação. Seja você o lado bom, o lado do acolhimento. Já tem muita gente ruim no mundo.
Acredite que você pode ser a diferença na vida de alguém... a diferença na escolha de alguém entre ficar neste plano ou não.

Por isso, finalizo reiterando que a morte do queridíssimo Paulo Gustavo não é mais uma morte ou a morte de mais um artista. É também uma ferida na esperança por dias melhores.
Mas o curativo é o amor e ninguém solta a mão de ninguém.